terça-feira, 30 de julho de 2024

Inverno

Era o avô
quem tinha o gesto. Quem desenhava
o gesto. Os outros tinham as patas (atadas
imóveis
no chão) mas o avô era o gesto (frio
áspero
profundo) que ia pela vida
do animal. A mão vacilava menos do que
a agulha de uma bússola
se acaso falhava o alvo (que conhecia
de cor) o
animal agastava-se num penoso sofrimento
que percorria distâncias. Depois
o sangue jorrava
(colorindo um alguidar) enquanto o bicho partia
um pouco mais que
minutos numa
agonia quente. Eu andava por ali (alheio à
morte e ao
mundo) à espera que fosse servido
(salteado de cominhos) o
sangue do animal. Que sabia eu então de
dar ou tirar
a vida? Que entendia eu
da dor?

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