segunda-feira, 4 de abril de 2022

Walden ou a vida nos bosques

 Considero saudável ficar só a maior parte do tempo. Estar em companhia, mesmo com a melhor delas, logo se torna enfadonho e dispersivo. Gosto de ficar sozinho. Nunca encontrei companhia que fosse tão companheira como a solidão. Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre os homens do que quando permanecemos em nosso quarto. Um homem enquanto pensa e trabalha está sempre sozinho, onde quer que esteja. Não se mede a solidão pelas milhas de espaço que distam um homem de seus companheiros. O estudante realmente aplicado, em meio às superlotadas colméias da Universidade de Cambridge, é tão solitário como um dervixe em pleno deserto. O lavrador pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques o dia inteiro, cavoucando com a enxada ou cortando lenha, e não se sentir solitário, porque está ocupado; mas quando retorna ao lar à noite não pode se recolher no quarto só, à mercê de seus pensamentos, e tem que ir aonde pode "ver gente" e distrair-se, para, como julga, recompensar-se da solidão de seu dia; e assim ele se pergunta como pode o estudante ficar sozinho em casa a noite inteira, além de grande parte do dia, sem se entediar e sem crises de tristeza; mas ele nem de longe se dá conta de que o estudante, embora em casa, continua trabalhando em seu campo, cortando a lenha de seus bosques, tal e qual o lavrador, e que por sua vez procura a mesma distração e companhia que este, só que provavelmente de forma mais condensada.

Sem comentários: