Dizíamos que José Augusto se lançava em excursão um pouco perdida pelos povos da serra, como Boscras e Servins. E entrando pelos planaltos da Abrobeira ia dar a Travanca do Monte, que foi berço de Pascoaes. Um lugar destacado do mundo, em que a pedra se faz vento e o vento envolve a Lua de véus pretos, a Lua viúva do vento. Esses sertões do Douro Litoral produzem uma gente exímia em sonhos, como decerto aquela estirpe do século X que já engendrava Portugal nas brigas senhoriais que significavam mais do que o desejo de se esquartejarem os homens e os territórios. «O homem que sonha é um deus, o que pensa é um mendigo.» Hölderlin sabe dar voz a esse fervor obscuro que nem à glória aspira e que é do bafo dum sonho, como se era do bafo do rei, quer dizer, seu íntimo. Ali jazem os senhores de Riba-Tâmega, sem um sinal que os dê a conhecer à História, mortos soberbos e sem ombros curvados pela sabedoria. Não tiveram o salário da posteridade, nem transmitiram o seu mistério. E, no entanto, tinham segredos, como todos os homens.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
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