sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Aulas de Literatura

A 15 de Janeiro de 1853, quando se preparava para iniciar a segunda parte, Flaubert escreve a Louise Colet: «Demorei cinco dias a escrever uma página [...]. O que me preocupa neste romance é a insuficiência do chamado elemento divertido. Mas continuo a achar que as imagens são acção. É mais difícil manter o interesse de um livro por este meio, mas se se fracassa a culpa é do estilo. Tenho cinco capítulos alinhados da segunda parte em que não acontece nada. É um quadro contínuo da vida numa pequena cidade e de uma aventura amorosa activa, uma aventura que é particularmente difícil de plasmar porque é simultaneamente tímida e profunda; mas, ai!, sem uma paixão interior tempestuosa. Léon, o meu jovem amante, é de natureza amena. Já na primeira parte do livro me vi confrontado com uma coisa deste tipo: o marido ama a mulher mais ou menos da mesma maneira que este amante. Ambos são medíocres no mesmo ambiente, e no entanto é preciso diferenciá-los. Se conseguir isso, será uma proeza, porque significa pintar cor sobre cor, sem contrastes definidos.» É tudo uma questão de estilo, diz Flaubert, ou mais exactamente do aspecto e da volta particulares que são dados às coisas.

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