As grandes peças de Tchékhov foram para o teatro russo um acontecimento tão considerável, que requerem um estudo especial. Elas transgrediam todas as regras da dramaturgia do seu tempo; introduziam na cena a vida quotidiana, as pessoas simples, a linguagem de todos os dias; obrigavam o encenador e os intérpretes a abandonar o que o teatro tinha de teatral, as suas convenções habituais... O diálogo de Tchékhov possui uma particularidade a que é uso chamar-se o seu «antetexto», espécie de corrente submarina que passa, silenciosa, por detrás das palavras pronunciadas em voz alta. Esse antetexto, exprimindo os sentimentos e pensamentos que estão atrás das palavras, destinadas umas vezes a melhor ocultar sentimentos e pensamentos e outras vezes simplesmente inábeis e arbitrárias, palavras como nos surgem na vida - esse antetexto dá às peças de Tchékhov a sua profundidade, uma terceira dimensão. Com a ajuda do actor, Tchékhov fá-lo entender ao público e é o antetexto que mantém os espectadores em suspenso, não obstante a ausência de intriga, de acção. Teatro de atmosfera, se se quiser, teatro do inefável, o qual não é, todavia, um fim em si: Tchékhov mostra-nos os motivos dessa inefabilidade russa do fim dos anos 90. Nessa época, em que já qualquer coisa começava a «troar», Tchékhov apurava o ouvido, principiava a querer, a esperar e a manifestar nas suas peças a sua crença e a sua esperança.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário