segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Crime e Castigo

Entrou o médico, um velhinho alemão asseado, olhando à volta com desconfiança; aproximou-se do doente, tomou-lhe o pulso, apalpou-lhe atentamente a cabeça e, com a ajuda de Katerina Ivanovna, desabotoou-lhe a camisa empapada em sangue pondo à vista o peito nu. Todo o peito estava amolgado, pisoteado, espedaçado; do lado direito tinha várias costelas partidas. Do lado esquerdo, no sítio do coração, havia uma mancha sinistra, negro-amarelada e grande, um coice cruel. O médico franziu a testa. O polícia tinha-lhe contado que o homem tinha sido apanhado pela roda e arrastado uns trinta passos pela calçada.

- É impressionante que tenha recuperado a consciência - sussurrou o médico a Raskolnikov.

- O que me diz, doutor? - perguntou este-

- Vai morrer, não tarda.

- Nenhuma esperança?

- Nenhuma. São os últimos estertores... Além disso tem uma ferida muito perigosa na cabeça... Hum... Talvez pudesse fazer-lhe um sangria... mas... seria inútil.

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