Em vez disso, meus senhores, vou contar-lhes outra história, desta vez sobre o próprio Ivan Fiódorovitch, uma história muito interessante e característica. Nada mais do que há cinco dias, numa reunião de sociedade local, preponderantemente feminina, este senhor declarou solenemente durante uma discussão que em toda a Terra não existia nada que fizesse com que as pessoas gostassem dos seus semelhantes, que em geral não existe uma lei da natureza que obrigue uma pessoa a gostar de outra, e que, se houve ou houvesse amor na Terra isso não seria por causa de uma lei natural, mas unicamente porque as pessoas acreditavam na sua imortalidade. Ivan Fiódorovitch também acrescentou entre parênteses que é nisso que consiste toda a lei natural e que bastava, por conseguinte, eliminar na humanidade a fé na imortalidade para desaparecer do seio dela não só todo o amor, mas toda a força viva susceptível de continuar a vida no mundo. Mais ainda: então não existirá nada imoral, tudo será permitido, inclusive a antropofagia. E ainda não é tudo: acabou por afirmar que, para qualquer pessoa particular, por exemplo, como nós agora aqui, que não acredite em Deus nem na sua imortalidade, a lei moral da natureza tem de transformar-se, de imediato, no contrário da lei anterior, a lei religiosa, e que o egoísmo, levado à perversão, não só deve ser permitido ao homem como deve ser reconhecido necessário, como a mais sensata e quase nobre saída para a sua situação. Com este paradoxo, meus senhores, podem tirar as conclusões sobre tudo o resto que se digna proclamar e tenciona ainda proclamar, talvez, o nosso querido, excêntrico e paradoxal Ivan Fiódorovitch.
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
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