terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Riso

O riso não provém, pois, da estética pura, visto que prossegue (inconscientemente e mesmo imoralmente em muitos casos particulares) um fim útil de aperfeiçoamento geral. Tem, no entanto, qualquer coisa de estético porquanto o cómico nasce no momento preciso em que a sociedade e o indivíduo libertos dos cuidados da conservação, começam a considerar-se a si próprios como obras de arte. Numa palavra: se traçássemos um círculo em volta das acções e disposições que comprometem a vida individual ou social e que pelas suas consequências naturais a si próprias se castigam, ficaria fora deste terreno de emoção e de luta, numa zona neutra onde o homem se dá simplesmente em espectáculo ao homem, uma certa rigidez de corpo, de espírito e de carácter que a sociedade gostaria ainda de eliminar para obter dos seus membros o máximo de maleabilidade e a mais alta sociabilidade possível. Esta rigidez é o cómico e o riso é o seu castigo.

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