quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Ars moriendi, ars vivendi

 Nesta dinâmica da diluição, Bénédicte Mariolle diagnostica uma tripla convulsão: em primeiro lugar, a relação ambígua que o ser humano vive com a própria morte, considerada, por um lado, como tabu, por outro lado, cada vez mais presente de modo virtual em nossas casas, através de séries, filmes ou jogos de vídeo que a banalizam. Um segundo ponto estaria ligado à dissolução da memória colectiva, associada à fluidez das relações sociaise à voracidade da informação consumida, que desgastam uma dimensão de memória longa e colectiva associada, sobretudo, ao dinamismo simbólico da prática liturgica e comunitári dos funerais. Finalmente, a questão da inconsistência do corpo: a prática cada vez mais comum de eliminação do cadáver, seja por cremação e subsequente dispersão das cinzas, seja por outros tipos de enterro fora do contexto comunitário, afastando o corpo individual do corpo social, fragmentando este último.


em Revista Brotéria, Novembro 2022

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