sexta-feira, 9 de junho de 2023

A morte de Ivan Ilitch

Todos vêem que ele tem dificuldades e dizem-lhe "Podemos interromper, se está cansado. Descanse." Descansar? Não, não está cansado e acabam a partida. Estão sombrios e silenciosos. Ivan Ilitch sente que foi o responsável por aquele tom soturno, e não consegue dissipá-lo. Ceiam e separam-se, e Ivan Ilitch fica sozinho com a consciência de que a sua vida está envenenada para ele, envenena a vida dos outros e que esse veneno não diminui, mas penetra cada vez mais no seu ser.

Com essa consciência, e com a dor física e o horror, vai deitar-se na cama e muitas vezes não dorme com dores a maior parte da noite. E de manhã tem de se leveantar outra vez e veste-se, vai para o tribunal, fala, escreve, e se não vai, fica em casa com aquelas vinte e quatro horas do dia, cada uma das quais um tormento. E tem de viver assim à beira da morte sozinho, sem uma única pessoa que o compreenda e tenha pena dele.

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