No nosso tempo, o discurso e a escrita política são em grande medida a defesa do indefensável. [... ] Assim, a linguagem política tem de consistir em grande medida em eufemismo, petição de princípio e pura vagueza nublada. Povoações indefesas são bombardeadas por aviões, os habitantes expulsos para o campo, o gado varrido a metralhadora, as cabanas postas a arder com balas incendiárias: a isto chama-se pacificação. Rouba-se as quintas a milhões de camponeses que são obrigados a caminhar penosamente pelas estradas com não mais do que conseguem carregar: a isto chama-se transferência da população ou rectificação das fronteiras. As pessoas são presas durante anos sem julgamento, ou levam tiros na nuca, ou são enviadas para morrer de escorbuto em explorações florestais no Árctico: a isto chama-se eliminação de elementos instáveis. Esta fraseologia é necessária quando se quer dar nome às coisas sem chamar as imagens mentais que lhe correspondem.
Se simplificarmos a língua, libertamo-nos das piores tolices da ortodoxia. Não seremos capazes de falar os dialectos necessários, e quando fizermos um comentário estúpido a sua estupidez será óbvia, até para nós próprios. A linguagem política — e com algumas variações isto aplica-se a todos os partidos políticos, dos conservadores aos anarquistas — foi concebida para fazer as mentiras parecer verdades e o assassínio respeitável, e para dar uma aparência de solidez ao puro vento.
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