Os catedráticos portugueses, esmagados de cursos com enorme números de alunos, não têm tempo senão para repetir este ano o que disseram o ano passado, e para lerem interminavelmente as provas escritas de estudantes que nem conhecem. E não foram formados senão num historicismo precipitado e superficial, que por sua vez transmitem aos professores secundários que os seus alunos serão. Deste trágico divórcio duas consequências resultaram: primeira, a tendência dos professores para se absterem do exercício da crítica ou para a praticarem apenas a um nível que se diria de divulgação (pois que partem do aristocrático princípio de que o saber é o que eles têm para seu uso e não importa comunicar ao público); segunda, a circunstância de toda a crítica viva e actuante ter sido na verdade feita por franco-atiradores, que a si mesmos se educaram sem disciplina académica ou contra ela, e que se dirigem sobretudo ao grande público, e colocando-se quase sempre em nível jornalistico. A falta de revista de cultura, que não sejam apenas repositórios de separatas académicas para justificação internacional da máfia universitária, e a necessidade de escrever em suplementos e páginas literárias dos grandes jornais, uma e outra dificultaram longamente que a ciência literária seja viva e que o ensaísmo literário se coloque acima da semanal crítica dos livros que se publicam, feita em critérios impressionistas ou de oportunismo político.
sábado, 30 de abril de 2011
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