Antígona

CREONTE

Quando é que viste os deuses honrarem os malvados? Não, não pode ser! Quanto às minhas ordens, há gente na cidade que se nega a acatá-las e, desde há tempo a esta parte, murmuram em segredo, contra mim; e erguem a cabeça, incapazes de baixar a cerviz sob o meu jugo, como era justom só porque não suportam as minhas ordens. Estou convencido de que alguém se deixou corromper pelo dinheiro dessa gente, a fim de praticar tal desatino, pois, entre os homens, nada se criou de tão funesto como as moedas. Elas destroem as cidades; afastam da pátria os cidadãos; encarregam-se de perder a gente de bons princípios, ao ensinarem-lhe a entregar-se, comodamente, à vileza; tanto para o bem como para o mal, dispõem dos homens e fazem-nos conhecer a impiedade; e a tudo mais se atrevem. Quantos se tenham deixado subornar por dinheiro, e hajam cometido desacatos desta espécie, mais tarde ou mais cedo, com o tempo, se continuarem a proceder assim, sofrerão o merecido castigo.