Desde que leio gazetas parisienses, de que se desprende um perfume de poder, tornei-me tão distinto que não respondo quando sou cumprimentado e não fico nada surpreendido com isso. Com o Temps na mão acho que fico muito elegante. Passarei, doravante, a não conceder um olhar às pessoas honestas. As gazetas parisienses são para mim substitutos do teatro. Nem sequer ao restaurante mais fino concederei o privilégio de lá pôr os pés, tão requintado me tornei. Os meus lábios não provarão nunca mais um golo de cerveja. Os meus ouvidos apenas admitirão o som harmonioso do francês. Tempos houve em que venerei uma dama, uma verdadeira lady. Hoje, acho-a inepta, inepta na mesma proporção das adulações que o Figaro me prodigalizou. Não é um facto que o Matin me pôs meio maluco? Enquanto os meus colegas, num tempo de crise como o nosso, se esfalfam a escrever, eu tornei-me sobranceiro devido a estas minhas gazetas. A viagem a Paris, que me tinha proposto fazer, considerei-a assunto arrumado e passei a travar conhecimento com a capital francesa pela via da leitura. É agradável estar em boa companhia e as gazetas dos vencedores são companhia da melhor. O que a língua alemã produz já nada me diz. Já não sei falar alemão; haverá algum mal nisso?
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
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