Não se pode propriamente falar de um mundo homérico ou tolstoiano a propósito da Ilíada e de Guerra e Paz, no sentido em que falamos de um mundo dantesco, balzaquiano, dostoievskiano. O universo de Tolstoi, o de Homero, é o nosso em cada instante. Não entramos nele, estamos nele. "Tudo dizer é-me difícil, não sou um Deus." Estas modestas palavras de Homero, Tolstoi poderia tê-las subscrito. Nem um nem outro precisam de o dizer para que o Todo se revele. Só eles (Shakespeare por vezes) têm estas pausas planetárias acima do acontecimento onde a história surge na sua perpétua fuga para além dos objectivos humanos, no seu inacabamento criador. Heitor não verá o aniquilamento dos invasores, nem o príncipe André o refluxo da invasão napoleónica. Resta ao pagão a imortalidade da glória, ao cristão a imortalidade da fé. Vinculado pelas suas raízes a esta paixão de eternidade, o amor da pátria só se manifesta plenamente na provação da guerra.
sexta-feira, 9 de março de 2012
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