sábado, 16 de julho de 2011

Marginalia

«Genus irritabile vatum! Que os poetas (dando à palavra a sua acepção mais vasta, incluindo todos os artistas) sejam uma raça irritável, isso é ponto assente; mas o porquê não me parece ser tão generalizadamente entendido. Um artista só é um artista graças ao seu sentido refinado do Belo - sentido esse que lhe proporciona prazeres inebriantes, mas que ao mesmo tempo implica, encerra um sentido igualmente refinado de toda a disformidade e de toda a desproporção. Assim, um dano, uma injustiça feita a um poeta que seja verdadeiramente um poeta, exaspera-o num grau que a um juízo vulgar se revela em completa desproporção com a injustiça cometida. Os poetas vêem a injustiça nunca onde ela não existe, mas muitíssimas vezes onde uns olhos não poéticos a não vêem de todo. Assim, a famosa irritabilidade poética não está relacionada com o temperamento, entendido no sentido habitual, mas com uma clarividência mais que habitual relativa à falsidade e à injustiça. Tal clarividência outra coisa não é que um corolário da viva percepção da verdade, da justiça, da proporção, numa palavra, do Belo. Mas há uma coisa muito clara - é que o homem que não é (no juízo comum) irritabilis, não é de modo algum poeta.»

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