quinta-feira, 19 de março de 2009

Allegro ma non tropo

Legiões de escritores, filósofos, epistemólogos, linguistas têm reiteradamente procurado definir e explicar o humorismo. Mas é difícil - para não dizer impossível - dar uma definição de humorismo. E isto é tão verdadeiro que, quando uma graça humorística não é percebida como tal pelo interlocutor, é praticamente inútil, e até contraproducente, tentar explicá-la.
O humorismo é claramente a capacidade inteligente e subtil de realçar e representar o aspecto cómico da realidade. Mas é também muito mais do que isso. Sobretudo, como escreveram Devoto e Oli, o humorismo não deve implicar uma atitude hostil, mas antes uma profunda e sempre indulgente simpatia humana. Para além disso, o humorismo pressupõe a percepção instintiva do momento e do lugar em que se pode exprimir. Fazer humor acerca da precariedade da vida humana junto do leito de um moribundo não é humorismo. Por outro lado, quando certo aristocrata francês, ao subir a escada que o levava à guilhotina tropeçou num degrau, e exclamou, virando-se para os guardas, "Dizem que tropeçar dá azar", certamente merecia que lhe tivessem poupado a cabeça.

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