Tornámos a atravessar a Avenida Gabriel, no meio da multidão dos transeuntes. Sentei a minha avó num banco e fui à procura de um fiacre. Ela estava agora fechada para mim, ela, em cujo coração eu me colocava sempre para julgar a pessoa mais insignificante, tornara-se uma parte do mundo exterior, e, mais do que a simples transeuntes, era obrigado a calar-lhe o que pensava do seu estado, a calar-lhe a minha inquietação. Não poderia ter com ela mais confiança para lhe falar disso do que com uma pessoa estranha. Acabava de me restituir os pensamentos, os desgostos que desde a infância eu lhe confiara para sempre. Não tinha morrido ainda. Mas eu já estava só. E até aquelas alusões que fizera aos Guermantes, a Molière, às nossas conversas acerca do pequeno núcleo, pareciam não ter base, não ter causa, pareciam fantásticas, porque saíam do nada desse mesmo ser que, talvez amanhã, deixaria de existir, para quem elas já não teriam qualquer sentido, desse nada - incapaz de as conceber - que a minha avó não tardaria a ser.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
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