quarta-feira, 9 de julho de 2008

O Avarento

HARPAGÃO

Aqui-d'el-rei! Ladrões! Assassinos! Bandidos! Justiça! Justiça, por Deus! Estou perdido! Fui assassinado! Degolaram-me! Roubaram o meu rico dinheirinho! Quem teria sido? Para onde foi? Onde está? Onde se esconde? Que fazer para o encontrar? Para onde hei-de ir? Para onde não hei-de ir? Não estará ali? Não estará aqui? Quem é? Alto! (Pegando no seu próprio braço.) Devolve-me o meu dinheiro, celerado... Ah, sou eu próprio. Tenho o espírito perturbado e nem sei onde estou, quem sou ou o que faço. Que desgraça! Meu rico dinheiro! Meu rico dinheirinho! Meu querido amigo! Privaram-me de ti e desde que te levaram perdi a minha protecção, o meu consolo, a minha alegria! Acabou tudo para mim! Nada mais faço neste mundo! Sem ti, meu rico dinheirinho, não posso viver. Acabou-se. Já não posso mais. Morro! Já estou morto e enterrado! Ninguém me quer ressuscitar, devolvendo-me o meu querido dinheiro, ou dizendo-me quem mo levou? O quê? Que dizeis?... Não é ninguém. Quem quer que tramou o golpe soube bem escolher o momento: precisamente aquele em que eu estava a falar com o patife do meu filho. Vou sair e queixar-me à Justiça! Que todos sejam interrogados: criados, lacaios, filhos... e eu próprio! Tanta gente junta! Não vejo ninguém de quem não desconfie, pois todos parecem o meu ladrão. O quê? De quem estais a falar? Do que me roubou? Por favor, se tiverdes notícias dele, dizei-me. Não se escondeu no meio de vós? Olham todos para mim e desatam a rir! Estou a ver que também tomastes parte no roubo que me fizeram! Vamos, depressa! Comissários! Archeiros! Oficiais da Polícia! Juízes! Reclusões! Patíbulos e carrascos! Vou mandar enforcar toda a gente... e, se não encontrar o meu dinheiro, enforco-me a mim também.

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