quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Anticristo

62.


- Termino aqui e pronuncio a minha sentença. Eu condeno o cristianismo, ergo contra a Igreja cristã a mais terrível das acusações que jamais acusador algum pronunciou. Ela é a maior corrupção que se possa imaginar, ela teve a vontade da última corrupção imaginável. A Igreja cristã não poupou em parte alguma a sua corrupção, fez de todos os valores não-valores, de cada verdade uma mentira, de cada integridade uma baixeza da alma. Que alguém ouse ainda falar-me dos seus benefícios «humanitários». Suprimir uma miséria era contrário ao seu mais profundo utilitarismo, ela viveu de misérias, ela criou misérias para se eternizar. O verme do pecado, por exemplo: uma miséria com a qual só a Igreja enriqueceu a humanidade! A «igualdade das almas diante de Deus», essa falsidade, esse pretexto para os mais baixos rancores, esse explosivo da ideia, que acaba por se tornar Revolução, ideia moderna, princípio da degenerescência de toda a ordem social - é a dinamite cristã... Os benefícios «humanitários» do cristianismo! Fazer da humanitas uma contradição, uma arte da poluição, uma aversão, um desprezo de todos os instintos bons e rectos! Eis os benefícios do cristianismo! - O parasitismo, única prática da Igreja, bebendo, com o seu ideal de anemia e de santidade, o sangue, o amor, a esperança da vida; o além, negação de toda a realidade; a Cruz, sinal de adesão para a conspiração mais subterrânea que jamais existiu - conspiração contra a saúde, a beleza, a rectidão, a bravura, o espírito, a beleza de alma, contra a própria vida...


Quero inscrever em todas as paredes esta acusação eterna contra o cristianismo em toda a parte onde houver paredes - tenho letras que fazem ver até os próprios cegos... Chamo ao cristianismo a única grande calamidade, a única grande perversão interior, o único grande instinto de ódio que não encontra meio suficientemente venenoso, suficientemente subterrâneo, assaz pequeno - chamo-o o único e imortal estigma vergonhoso da humanidade...

E mede-se o tempo a partir do dia nefasto que marcou o início deste destino - a partir do primeiro dia do cristianismo! - Porque não se havia de medir a partir do seu último dia? A partir de hoje - Transmutação de todos os valores!...

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