domingo, 6 de janeiro de 2008

A Morte de Ivan Ilich

O exemplo de silogismo que lá ensinavam na lógica: «Caio é homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal» sempre lhe parecera muito correcto em relação a Caio, mas incorrectíssimo em relação a si mesmo. Tratava-se de Caio, do homem em geral, e assim muito bem. Mas ele não era Caio, não era homem em geral; ao contrário, fora sempre um ser distinto dos mais: tinha sido Vania com a mamã e o papá, com Mitia e Valodia, com os brinquedos e o cocheiro, com as amas e depois com Katenka, com todos os entusiasmos, alegrias e sofrimentos de infância, da adolescência e da juventude. Terá porventura Caio sentido no nariz aquele cheiro que tinha a bola de couro e de que Vania tanto gostava? Tinha Caio beijado alguma vez a mão de sua mãe e o frufru de seda das pregas do vestido tinha impressionado os ouvidos de Caio como impressionava os seus? E fora Caio porventura quem armava zaragata na Faculdade de Direito por causa de certos pastéis? Apaixonara-se Caio como ele se tinha apaixonado? Poderia Caio ocupar a presidência em certa reunião como ele fizera?

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