Algumas linhas para me lembrar de que também eu subsisto. Mais ninguém veio. Quanto tempo desde a minha visita? Não sei. Muito tempo. E eu. Inegavelmente moribundo, e é tudo. De onde me vem esta certeza? Tento reflectir. Não posso. Sofrimento grandioso. Incho. E se rebentasse? O tecto aproxima-se, afasta-se, ritmadamente, como quando eu era feto. Assinale-se igualmente um grande ruído de águas, fenómeno mutatis mutandis análogo talvez à miragem, no deserto. Janela. Não voltarei a vê-la, lamentavelmente, impossibilitado que estou de mexer a cabeça. Luz uma vez saturnina, bem acamada, atravessada de torvelinhos, escavando-se em funis profundos de fundo claro, ou deveria eu dizer o ar, luz aspirante. Tudo está a postos. Menos eu. Nasço dentro da minha morte, se me atrevo a dizê-lo. É essa a minha impressão. Gestação invulgar. Os pés saíram já, da grande cona da existência. Apresentação favorável, espero bem. A minha cabeça morrerá em último lugar. Dá cá as tuas mãos. Não posso. A dilacerante dilacerada. Depois de a minha história se deter continuarei ainda vivo. Desfazamento que promete. A meu respeito acabou-se. Não tornarei a dizer eu.
sábado, 12 de janeiro de 2008
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