sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Intenções

Gilbert

Quer-me parecer que, com o desenvolvimento do espírito crítico, seremos capazes de realizar não apenas as nossas próprias vidas, mas a vida colectiva da raça, tornando-nos, desse modo, absolutamente modernos, no verdadeiro sentido da palavra modernidade. Porque aquele para quem o presente é a única coisa que é presente, nada sabe da época em que vive. Para se compreender o século XIX, somos forçados a compreender todos os séculos que o precederam e que contribuíram para que ele surgisse. Para saber algo de nós próprios, temos de saber tudo dos outros. Não poderá haver estado de espírito com que não possamos simpatizar, nem modo de vida desaparecido que não possamos tornar vivo. Será isto impossível? Creio que não. Ao revelar-nos o mecanismo absoluto de toda a acção, libertando-nos assim do peso embaraçoso e auto-imposto da responsabilidade moral, o princípio científico da Hereditariedade tornou-se como que a caução da vida contemplativa. Mostrou-nos como nunca somos menos livres do que quando tentamos agir. Enleou-nos nas redes do caçador, e escreveu na parede a profecia da nossa perdição. Somos incapazes de observá-lo, porque está dentro de nós. Somos incapazes de vê-lo, a não ser num espelho que reflicta a alma. É Némesis sem a máscara. É a última das Parcas, e a mais terrível. É o único dos Deuses de quem conhecemos o nome próprio.

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